quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Notas sobre Camp

"A afirmação Camp definitiva: é bom porque é horrivel..." SONTAG, Susan. Notas sobre Camp, página 337, nota 58.

Contextualizando, Sontag escreveu suas "Notas sobre Camp" na década de 60 (1964) início do movimento de libertação de todas as formas de expressão, desde a sexual, ao formato padrão das músicas, tanto rítmica quanto melodicamente falando, surge o rock e o "ie ie ie" com os Beatles liderando este movimento; o movimento hippie ganha força; esculturas exageradas que não seguem os padrões ou não seguem as devidas proporções; pinturas com combinação cores berrantes e/ou esteticamente descompensadas; extrapolar os padrões, ser diferente, fazer diferente. Registra-se, neste momento, a transição da vanguarda para a contemporaneidade.

Como diz José Antonio Küller, no seu blog: "O atestado de óbito da Modernidade. Os procedimentos da arte passam dos polêmicos questionamentos dos suportes tradicionais ao fim do suporte como elemento essencial da obra de arte. É o momento da arte conceitual que vai dominar na década seguinte. Uma arte mais fria, cerebral, menos engajada, voltada para interrogar sua própria natureza."
(http://josekuller.wordpress.com/2008/07/17/as-artes-plasticas-na-decada-de-60-e-em-maio-de-68/ acessado em 02/12/2009)

Algumas manifestações artísticas como por exemplo o minimalismo, a arte cinética, novo realismo, originadas na Inglaterra, foram "assumidas" pelos americanos e por eles difundidas, demonstrando seu poder de influência na cultura mundial – como um dos resultados naturais da proliferação do capitalismo.

Podemos citar como características principais desta época (décadas de 1960 e 1970):

- valorização da natureza;
- vida comunitária;
- luta pela paz (contra as guerras, conflitos e qualquer tipo de repressão);
- vegetarianismo: busca de uma alimentação natural;
- respeito às minorias raciais e culturais;
- experiência com drogas psicodélicas,
- liberdade nos relacionamentos sexuais e amorosos,
- anticonsumismo
- aproximação das práticas religiosas orientais, principalmente do budismo;
- crítica aos meios de comunicação de massa como, por exemplo, a televisão;
- discordância com os princípios do capitalismo e economia de mercado
(http://www.suapesquisa.com/musicacultura/contracultura.htm, acessado em 02/12/2009)

Surge neste momento o movimento da "contracultura" liderada pelos jovens desta época.

É neste cenário mundial que Susan Sontag escreve suas "Notas sobre Camp".

Ser Camp, segundo Sontag, é ser chocante, é chamar a atenção ou porque é belo demais (a beleza dói?) ou porque é bizarro ou feio demais. Mas não basta chamar a atenção apenas. Tem que ser original e/ou inédito. Não pode ser uma coisa "clichê", já esperada que assim seja. Tem que ser novidade.

Ser Camp é ser livre de influências, é representar a realidade por mais absurda que esta possa ser ("isso é tão ruim que parece até bom"). O compromisso do "ser Camp" é com a verdade/realidade com seriedade.

Não tenho dúvida que todo o movimento artístico/cultural da época influenciou Sontag na criação do "ser Camp". Dessa forma me questiono: o que diria Sontag se perguntássemos hoje o que é ser Camp? Sustentaria ela a mesma definição de Camp na atualidade? Acredito que não! Até mesmo para "ser Camp" ela poderia "desdizer" o que é ser Camp, não? Só sei que Sontag foi uma observadora crítica da realidade, revolucionária para sua época e como ele mesma disse, uma "esteta afeiçoada" e "moralista obsessiva".

"O sentido dessa (nova) arte é exatamente não ser arte, do ponto de vista tradicional. É pôr em relevo aquilo que a grande arte exila - a cultura de massa e a baixa literatura. É evidenciar a sensação no lugar do sentimento, trazendo o corpo para a cena aberta, em vez de reverenciar o espírito. Em suma, trata-se de uma arte social na medida em que é uma arte socializada, pois seus pontos vitais emergem das ruas."
(http://www.confrariadovento.com/revista/numero9/ensaio04.htm, acessado em 02/12/2009)

É desta forma que Sontag pensa sobre o Camp. Pensar a arte ampla, construída e acessada por todos, indiscriminadamente, independente da sua classe social, da sua raça, da sua religião ou sexualidade. A arte descompromissada com os padrões de beleza impostos pela sociedade dominante.

"A paixão pelo novo trouxe consigo, por sua vez, a destruição do modelo clássico de beleza. Daí para frente não há mais uma beleza senão várias; a categoria do belo passa a ser relativa e não mais única e absoluta."
(http://www.uel.br/pos/letras/EL/vagao/EL1Art10.pdf acessado em 02/12/2009)

Isto é ser Camp! Indiretamente Sontag nos induz para a desconstrução do conceito clássico de beleza. O belo pode estar no bizarro, no chocante. O belo está no poder que qualquer tipo de arte tem em nos causar uma sensação - qualquer que seja.

Sem dúvida Sontag nos provoca a pensar a arte de forma diferenciada, livre de pré-conceitos (ou, reforçando, conceitos pré concebidos) e de amarras sociais, mas com seriedade.

Um comentário:

  1. Gostei do seu texto. A pesquisa também é boa. A introdução ficou um pouco longa, já que foi um pouco econômico na análise do próprio texto da Sontag. Mas é um bom texto. Demonstra reflexão apropriada sobre o que foi estudado.

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